Ao seu destino
“… e logo chegaram ao seu destino.” (Jo 6.21)
Assim sintetiza João o episódio da tempestade, em que os demais evangelhos trazem mais detalhes: “… e
logo chegaram ao seu destino.” O objetivo é garantir que com Cristo, o Filho de Deus, nada pode impedir de alcançar
a sua agenda redentora.
Neste caso, as forças da natureza eram-lhes insignificantes, ao passo que, para os discípulos, impingiam
medo. Escuro, alto mar, vulneráveis ao desconhecido, tiveram alívio com a aproximação do Senhor Jesus.
Marcos, em seu evangelho, diz que Jesus pretendia, ao andar sobre as águas, passar à frente do barco e os
conduzir. Porém, sugere que o medo dos discípulos era tanto que o fez entrar no barco.
Mas João encerra todo o pavor noturno dos homens com “eles de bom grado, o receberam.” E, pronto,
encaminha a narrativa para a segurança de se chegar ao ponto planejado pelo Senhor. É como se dissesse: que não
importa a luta, o medo, a morte, o que Cristo ordena, se cumpre. O crente chega ao porto, destino seu: “e logo
chegaram ao seu destino.”
Mais do que Cristo estar no barco com esses frágeis mortais, é a confiança de que, apesar do medo da morte
e das lutas, eles não se afastarão de seu destino final. E isso é algo que Mateus fortalece com uma narrativa maior,
envolvendo Pedro (Mt 14.22ss).
Os discípulos veem Jesus vindo-lhes ao encontro sobre o mar. Pedro logo pede para ir até Ele, e, mal desce
do barco, afunda. Pedro se lança- atrevido- mas afunda, porque a natureza lá fora é maior do que a sua alma. Cristo
o salva e traz o náufrago da fé para dentro do barco prontamente. Cristo sempre junto a estes homens é a certeza
de que nunca morrerão no meio de sua jornada. Chegarão seguros ao destino, apesar do vento, ondas e da noite
escura.
Ah… como este pequeno versículo tem o poder de me alcançar, conforme pretendeu João! Não adiantam
velas, remos ou bússolas; uma hora tudo se nos é inútil. O mar costumeiro nos torna desconhecido e a natureza
caída nos domina.
A alegoria de Agostinho me faz todo sentido agora:
Não somos todos estrangeiros neste mundo, embora nem todos desejem retornar à sua pátria?
[…] Precisamos então de uma barca e, por mais seguro que seja a barca, corremos perigo. Mas,
fora da barca, nossa perda seria certa. Por mais vigorosos que sejam os braços de uma pessoa que
nada no oceano, essa pessoa acaba derrotada, arrastada e submergida nos vastos abismos. Assim,
para atravessar esse mar, precisamos estar em uma barca e sustentados por uma madeira. A
madeira que sustenta nossa fraqueza é a cruz, como diz o Senhor, com a qual somos marcados e
que nos preserva dos abismos deste mundo. As ondas se levantam contra nós, mas o Senhor é
Deus e ele vem nos ajudar.1
Oh, mar de caos e natureza vulnerável é a do homem entre todas as criaturas de Deus. Sei que basta uma
gotícula da toxina de um sapinho bonitinho da Amazônia para matar o mais ágil dos índios.
“E logo o barco chegou ao seu destino” à alma igualmente angustiada, como a dos discípulos, também pode
dar a mesma paz. Não porque de onde o seu barco está, no meio da tribulação, já avista a terra segura. Mas, porque
a sua segurança vem da presença de Cristo.
Eliandro Cordeiro
Maringá, 06, jul. 2025
Senhor, Os meus mapas, bússolas, redes, velas e conhecimento do mar, quão pouco me ajudam.
Se Tu vens ao meu barco, logo é Teu.
A terra eu avisto, mas porque agora estou em paz. Esta (Paz) andou até mim e nem gritei temeroso, como aqueles homens! O vento, o mar, já não os vejo. Só vejo terra firme. Eu só te vejo. Destino meu. Amém.
1 AGOSTINHO. Sermão 105, §4-5. In: Obras Completas de Santo Agostinho. Petrópolis: Vozes, s.d.