Nem Moisés, nem Felipe- só Jesus.

Devocional em: Nm. 11.12-15; Jo.6.5-9.
Moisés se desespera, clama a Deus. Felipe conhece a região, mas não pode dar pão. Nada faz. Jesus dá graças, separa o povo em partes organizadas, agradece e multiplica o pão.
Ah… se pudéssemos colocar Moisés e Felipe numa mesma cena histórica… Jesus pergunta: “Ei, vocês dois,
onde compraremos pão para esse povo comer?” Moisés logo responde: “Donde teria eu carne para dar a todo este
povo?” (Nm. 11.13). E Felipe ratifica: “Não lhes bastariam duzentos denários de pão, para receber cada um o seu
pedaço.” (Jo. 6.7)
Moisés, em Números 11, se vê sozinho, desorientado diante de um povo que lhe exige o pão. Embora, íntimo
de Deus, ele sucumbe sob o peso da responsabilidade. Então, clama a Deus e intercede pelo povo. Deus manda o
maná.
Centenas de séculos depois, um “remix” da história. Uma multidão faminta, no deserto, se reúne ao redor
de Jesus. Ele testa Felipe (6.6), que, mesmo conhecedor da região, só sabe calcular dificuldades.
De modo ‘cabulosamente’ simples, Jesus só ergue uns pãezinhos para o céu e agradece. E tudo o quanto
dois homens nunca puderam fazer, Jesus fez com a naturalidade de um padeiro retirando mais uma fornada de pães!
Não sei se proposital a João e ao Senhor Jesus, mas o texto mostra que Jesus é superior a Moisés (e a Felipemas isso é muito óbvio). Acredito que este seja um recurso didático de João.
Pois, o único Evangelho onde não há parábolas, os sete sinais parecem ser parábolas pós- sinais. Parece ser
um método inverso dos demais: Jesus ensina e depois aplica com milagres parabólicos. João parece nos dizer: “Veja,
creia, depois compreenda.”
Acho até irônico, pois o que Agostinho fez ao unir Atenas a Jerusalém, costurando-as com os fios dourados
de Isaías 7.9- “Se não acreditardes, não compreendereis” – João o antecipa!
Sabemos ser proposital Jesus usar o recurso da falta do pão para fartar o povo milagrosamente no deserto.
Ele disse na parábola-milagre que é Ele o pão vivo (Jo 6.48-54). Moisés só deu maná (pão). Na verdade, ele pediu a
Deus. Depois o povo voltou a ter fome. Mas, sendo Ele o pão Vivo que desceu do céu, a fome espiritual jamais
retorna.
Porém, na ocasião da aproximação dos dois textos, eu comparo o comportamento do profeta ao do Senhor.
Felipe é apenas um dos discípulos que com os outros, distribuem os pãezinhos. Moisés também, nesse caso, tornase apenas aquele que “ajuda” a Deus. Mas Jesus não; Ele não pede ao Pai- Ele só agradece: e o pão se parte em suas
mãos em milhares de outros pães.
Mas, naquele dia lá no deserto, Moisés só deu pedacinhos dia a dia… Ainda se comessem até se fartar, a
fome voltaria. E deveria ser assim: a fome e a saciedade sucessivamente eram lembretes Daquele Profeta maior do
que Ele (Dt 18.15) Já nas mão de Jesus, os pedacinhos batizados em sua gratidão transformam-se em pão inteiro:
“Este é o meu corpo que é partido por vós…” (Lc 22.19).
Ações contrastantes há entre essas três personagens. Moisés clama, Felipe calcula e hesita, como a nossa
lógica limitada – nós duvidamos. Jesus agradece. Esse contraste mostra como a fé verdadeira não busca apenas
resolver um problema: já agradece, pois a gratidão antecede o milagre. Jesus, diferente de Moisés, é grato ao Pai,
pois há a absoluta certeza do que virá a acontecer (Jo 6.6; 10.30; 11.41). Ele sabe que o momento é a concretude do
que Moisés prefaciou no deserto séculos antes.
Moisés é a Lei que se aproxima de Deus e revela a dependência externa que os homens têm dela. Moisés,
clama, pede e faz tudo certinho. Mas Jesus é o próprio Deus. Vive a Lei perfeitamente e se mantém acima dela: Ele
é perfeito. Todavia, como, também, o Homem Perfeito, Jesus entende que deve agradecer ao Deus-Pai.
Enquanto Moisés representa a dependência da intercessão, e Felipe a limitação do raciocínio, Jesus encarna
a plena comunhão, a autoridade divina, e a encarnação do milagre.
Assim como Deus, em Gênesis, trouxe tudo do nada – átomos, moléculas, luz, pedras, maçãs… – o Filho de
Deus trouxe tudo de novo. Nas suas mãos ergue a matéria – agora caótica e limitada- criando vida sobre vida e a
matéria sobre o milagre. Como um lembrete do que Deus-Pai fez, tudo continua nas mãos de Jesus: “O meu pai
trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5.17). Ele sustenta a vida todinha (At. 17.18; Rm 11.36; Hb 1.3,8).
O que Cristo fez com o pãozinho em mãos não assume o milagre como uma intervenção na natureza. Como
aponta Karl Barth em Dogmática Eclesiástica (Fonte Editorial, 2019): “Jesus Cristo é o Senhor da natureza, não contra ela, mas nela e por ela.” Essa ação revela que o milagre não é improviso – é desdobramento da soberania que sustenta todas as coisas.
Todavia, se os pães dependessem de Moisés ou de Felipe, todo o esforço seria para que o pão se
multiplicasse como “uma mágica”. Ora, Cristo não é mágico; Ele é Deus, não é mesmo?
A confluência desses dois textos forma uma narrativa que contrasta desesperos humanos com a suficiência
serena de Cristo. Moisés esperava pelo tal Profeta (Dt 18.15). Felipe, pouco dele sabia (Jo. 6.6; 14.8-10).
E você? Sem dinheiro e sob o peso da responsabilidade de cuidar da casa, crianças, trabalho, se queixa a
Deus? Já tentou todas as mágicas possíveis para multiplicar o pão do fim do mês?
Você lembra o que significa milagres para Jesus?
Então…
Eliandro Cordeiro
Maringá, 24 de out. 2025
“Ah, nãooo, Mister M…“ – Cid Moreira
Cansado de ser David Corpperfiel
