Abra a boca e feche os olhos…A fé do jacaré.

“…Abre bem a boca e ta encherei.” (Salmo 81.10. cf Dt 8.3-10)
“Abre a boca e feche os olhos…” – qual pai nunca brincou assim com a sua criança? É uma relação que, mesmo
que ignorada, exige confiança e obediência. (Nesta mesma ordem). Pois, a gente sempre está mais disposto a obedecer a quem confiamos do que até mesmo quem nos convence racionalmente. Seguir ordens e/ou instruções de quem nãoconfiamos sempre nos deixa com a alma suspensa, não é mesmo?
Se você ler o Salmo 81 todinho, vai perceber exatamente isso que falo. Israel perdeu muito por, mesmo no
deserto, ter desconfiado de Deus e desobedecido a Ele.
Confiança e obediência é um dos alicerces necessários na relação para com Deus. Há um lamento divino ao
relatar a triste história de um povo que, mesmo no deserto, poderia ter vivido com fartura, se não fosse a incredulidade e o seu fruto, ou seja, a desobediência.
O povo, desconfiado do caráter de Deus, “não fechou os olhos”. Por duvidar da bondade e santidade de Deus,
“não abriu a boca”. Um gesto tão simples, mas que implica em confiança íntima. Fechar os olhos é se pôr nas mãos do outro. E abrir a boca com os olhos fechados então? E isso pode ser perigoso. “Vai que Ele me dê um escorpião para
comer” – pensa o desconfiado (Lc 11.11,12).
Ora, não é um simples abrir de boca. A ordem é para abri-la ‘bem’. Como se pedisse uma confiança total, pois,
assim como um lençol meio limpo está completamente sujo, uma fé pela metade se chama incredulidade.
Deste modo, a lógica é: quanto mais se confia em Deus, maior é a boca que se abre! Concordo com Calvino, no
comentário aos Salmos, ao dizer que “Pela expressão, abre bem ele tacitamente condena os tacanhos pontos de vista e desejos que obstruem o exercício de sua beneficência.
“…o povo está em penúria […], porque por sua incredulidade
rejeitam as bênçãos que fluiriam espontaneamente sobre eles.”
Ele não só os convida a abrir sua boca, mas também
magnifica a abundância de sua graça de forma ainda mais sublime, notificando que, por mais dilatados nossos desejos possam ser, nada estará faltando do que é necessário para propiciar-nos plena satisfação.” (2011, p173)
Allan Harman, em seu Comentários do Antigo Testamento – Salmos, entende que este versículo é uma paráfrase
de Deuteronômio 4.1.
Ele explica que “o povo é convidado a abrir sua boca para que Deus a encha. Isto mostrará sua
incapacidade de satisfazer suas necessidades pessoais, e consequentemente estão esperando que Deus lhes dê sua
provisão.” (2011, p.297)
A imagem que se cria é como a dos passarinhos que retornam para o ninho trazendo no bico o que de longe
buscou como alimento para os filhotes. Já viu filhote de passarinho no ninho? Nas duas primeiras semanas, tudo o que têm são olhos enormes, ainda fechados, e o bico quase maior do que a cabeça! Depois de algumas semanas, a
plumagem brilha colorida ao sol. Alguns até ameaçam uns gorjeios tímidos.
Onde há desconfiança, a ordem deste versículo poderá ser interpretada como eu brincava com a minha filha:
“Fecha a boca e abra os olhos…” Embora a surpresa pudesse ser boa, não se tratava dela, mas da confiança.
Eliandro Cordeiro
Maringá, 10 de out. 2025.
O jacaré dorme com um olho aberto e outro fechado –
Uni-hemisférico – apenas metade do cérebro descansa.
Tadinho!
