“Não te mandei EU? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo por onde quer
que andares” (Js.1.9).
“Pedro não se sentiu muito corajoso; na verdade, ele sentiu que ia vomitar. Mas isso não fazia diferença no que ele
tinha de fazer.” CS Lewis Coragem sem fé é prepotência.
A par do desafio de substituir o grande Moisés e entrar na terra da promessa (o que, apesar de grande líder, Moisés não conseguiu fazer), Josué tem medo. A força necessária para atravessar o Jordão vem do próprio Deus: “Sê forte e corajoso!”. Ele precisa de coragem. Deus não lhe diz que precisará de inteligência, sabedoria, experiência, soldados etc. Claro que todas essas coisas seriam necessária a Josué. Mas Deus resume tudo o quanto o seu servo
precisaria com a palavra coragem.
Seríamos tolos se ao lermos as Escrituras não nos apropriássemos daquilo que nos auxilia imediatamente à realidade (2Tm.3.15-17). Assim, não é errado que, em situação de medo ou diante de grandes desafios, também tomemos tais palavras do Senhor como ditas a nós. A Palavra de Deus tem, com o devido respeito e interpretação, esta função mesma (Rm.15.4-6). Diga-me se, ao ler Josué capítulo 1 e versículo 9, você não assume imageticamente a posição Josué e se agarra à ordem de Deus: Coragem! Quando se crê na Palavra de Deus, é bem possível que ouçamos Ele nos dizer: “coragem!”
Que consolo Josué teve por saber que, embora não fosse como Moisés e nem fizesse as obras semelhantes as dele, Deus não o compararia ao libertador de Israel: “Como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei, nem te desampararei” (5). Ora, Moisés foi o grande líder porque Deus não o deixou. O Grande Deus também havia agarrado as mãos do moço Josué e o lançaria para o outro lado do Rio Jordão. As duas personagens deste livro são evidentes: Deus e Josué. Porém, as promessas de Deus ao homem são tão belas e propícias às nossas vicissitudes que nos focamos muito mais no líder do que em Quem fez a promessa,
isto é, Yahweh.
De fato, a coragem é necessária a Josué e ocupa lugar importante na leitura desse texto. O próprio Deus dizque o medo não levaria Josué muito longe ( v.6). Era necessário coragem (além da obediência à Lei). Deste modo, a palavra coragem logo nos torna importante e imperiosamente nos obriga a aplica-la ao nosso contexto de lutas, dificuldades, enfermidades ou outras dores nesta vida.
Facilmente nos lembramos de Guimarães Rosa que afirma em “O grande Sertão Vereda” (e não totalmente
errado!) que, “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega edepois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
Pronto! A “CORAGEM” se torna a palavra de ordem; a palavra a ser experimentada e aplicada por ordem
deste versículo bíblico. Mas está erroneamente isolada do seu contexto. A coragem, por si mesma, nada é. O que
não nos falta é a vontade de ter coragem, não é mesmo?
Ora, é bem verdade que Josué é advertido a ter coragem, a ser forte. Contudo, não é coragem por coragem.
Josué não tem que inflar o peito e encarar o desafio como um homem forte. Não há incitação para que simplesmente
agarre a sua lança (Js.8.18), reúna a tropa, pise firme o chão e rasgue as águas do Jordão assumindo o peso do mundo
sozinho, porque Deus lhe ordenou.
A coragem estaria sozinha, seria mero conceito ou recurso do desespero, se em cada versículo deste capítulo,
sustentando a ordem divina para se agarrar ao peito de Josué, não estivesse a palavra “EU” (Deus).
Deus esteve com Moisés por toda a sua vida. Quando o cesto flutuava ligeiro no Nilo, era a mão de Deus que
o segurava (Êx.2.3). Os olhos de sua irmã, Miriã, eram na verdade, os olhos de Deus a guardá-lo (Êx.2.4). É esta
Presença que daria coragem a Josué.
A coragem sem a certeza da Presença de Deus pode ser um mero conceito, uma fé humanista, mística e,
incrivelmente, niilista. Há até mesmo ateus que idolatram a sua coragem de viver sem Deus! Quando se abraça a
coragem sem a Presença de Deus, o homem é capaz de fazê-la assumir personalidade e parecer fazer o universo
conspirar em favor dele. Mas, a natureza sem a providência de Deus é cega; é caos (Gn.1.1,2; Rm.8.28) e até mesmo
inanimada. E, portanto, não será a coragem quem dirige o homem, mas a fé em si mesmo. E, neste caso, a coragem
abandonou a fé.
Eliandro Cordeiro
Maringá, 22 mai,2025.