
“Servi ao Senhor com toda humildade e com lágrimas, sendo severamente provado pelas conspirações dos judeus. Vocês sabem que não deixei de pregar a vocês nada que fosse proveitoso, mas ensinei tudo publicamente e de casa em casa.” (Atos 20.19–20.
Paulo revela ter passado por profundas aflições- lágrimas, provações e perseguições. Mas, em vez de replicar
dor, escolheu plantar aquilo que era espiritualmente proveitoso: o Evangelho, sabedoria e fé.
A postura de Paulo inverte a lógica humana: não devolveu o mal que recebeu, mas replantou amor e
instrução. Ele serviu com humildade e persistência, mesmo no sofrimento. A Sua vida exorta a reverter ciclos
dolorosos, devolvendo graça mesmo quando lhe deram amargura.
Isso prova que nem sempre se colhe o que se planta. Paulo colhia o que plantou ao pregar o Evangelho em
Mileto? Se assim fosse, não receberia nada da graça de Cristo, visto que só conseguia plantar o mal. Quando esse
ciclo se quebraria?
Há uma lógica espiritual da colheita e do plantio que inverte a expectativa comum: não apenas “colher o que
se planta”, mas plantar algo melhor do que se colheu — especialmente diante do mal ou da dor. Sei que isso soa
contra-intuitivo, se pensado em Gálatas 6.7. Contudo, não confronta a lógica de Cristo. A prática do bem que visa
retribuição positiva nem sempre é vista como honesta pelos Evangelhos. Às vezes, é até vazia.
A natureza do Evangelho tem uma lógica que enlouquece a natureza do coração humano. Há uma ordem
oposta acerca da colheita. Existe uma inversão da lógica natural da colheita: em vez de apenas colher o que se planta,
podemos plantar melhor do que aquilo que colhemos- especialmente se a colheita foi amarga. Paulo parecia um
engenheiro agrônomo do Evangelho: “Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem.” (Romanos
12.21).
Parece que o apóstolo fala de plantar na vida do outro alface, enquanto recebia de volta almeirão (nada
contra essa hortaliça!). Portanto, essa “Teologia do Anti-retorno” não é uma invenção Eliandrina.
Nem sempre colhemos o bem que plantamos, mas podemos escolher plantar melhor do que aquilo que colhemos.
Proponho uma reversão de ciclo? Só aponto o outro lado da semeadura: nem sempre a colheita entrega o
resultado exato de tudo o quanto plantamos (e isso tanto para a boa quanto para a má plantação). Se eu colhesse
sempre o que plantei, o meu celeiro seria só espinho e quiçaça ou, misericordiosamente, vazio (Gn 3.18-20).
Replantamos sempre pouco em comparação ao que Deus nos dá (João 1.16; Tiago 1.17; Salmos 103.10).
Nem sempre colheremos o que plantamos, no que diz respeito ao bem que se faz; mas, quanto ao mal recebido,
podemos replantar melhor do que o colhido. Podemos colher diferente do que se plantou e plantar diferente do que
se colheu.
Em Mileto, Paulo pediu que os presbíteros da igreja de Éfeso o encontrassem. Eram as instruções finais para
sua despedida. Vejo essa despedida como um ato generoso de replantio. A sua despedida ilustra como alguém que
colheu dores escolheu plantar sabedoria, instrução e fé. Deu mais do que recebeu. O apóstolo colheu lágrimas,
sofrimentos, dores, ciladas e provações diversas. Este homem plantou “coisas proveitosas”, isto é, o Evangelho.
Você colhe o que planta, mas que tal plantar diferente daquilo que colheu, caso a colheita tenha sido ruim?
É certo que não temos em nós um depósito suficiente de sementes boas. Mas sabemos onde podemos buscá-las:
nos Evangelhos! A gente não precisa replantar o que colheu, pois nem sempre colhe o que plantou.
Eu gosto de garapa (caldo de cana). A cana é dura, mas quando triturada sai doçura e não concreto. Tadinha!
Colheu o que não plantou e deu o que não colheu. Foi triturada. Que delícia!
Já pensou em plantar o que ainda não colheu? E, melhor ainda, plantar o bem para que o outro o colha,
mesmo que ele tenha semeado o mal? Talvez o outro nem tenha o que colher. Dê-lhe boas sementes! Um bom dia
à quem passa silencioso ao teu lado já é um começo.
Que tal, mais do que se preocupar em colher o que se planta, plantar mais do que aquilo que colheu? Não
espere colher apenas o que plantou (Provérbios 25.21–22; Mateus 5.20; Romanos 12.20–21).
Você pode nunca ter plantado em sua horta, mas a vida pode te entregar jiló verdinho, fresquinho e bem
amargo. Vai lá, volte à horta e plante duas vezes mais morangos (Não se planta morango do amor, engraçadinho…)!
Eliandro Cordeiro
Maringá, 29 set 2025
Morango, moranga
Garapa, rapadura
Batata frita, jiló
Licor de bacalhau, Coca-Cola
Bife, brócolis
Atalaia- Jurubeba, Café
Obrigado, Deus.
