O hóspede
“Lava o teu coração da malícia, ó Jerusalém, para que sejas salva! Até quando hospedarás contigo os teus maus pensamentos?”
(Jr. 4.14).
Dias desses descobri um hóspede aqui em casa. Discreto; silencioso- um ninja! É aquele tipo que pode morar
a vida toda contigo fazendo-lhe acreditar que é uma boa companhia. Rapidamente descobri que ele não estava
sozinho. Não sei de onde eles vieram. A casa estava limpinha e o meu cão é bom caçador! Ligeiro comprei ratoeira
e veneno. Agora ando cismado pela casa. Vejo pequenos vultos em tudo o quanto é canto.
Você já viu um ratinho? E não é que ele é bonitinho? Cheguei a chamar um deles de Stuart Little (O ratinho
do filme). Enfeitiçado pela estranha beleza da criaturinha percebi-o como o indesejável hospede desejado. Ele era
tão pequeno e bonitinho…
“O cara é gente boa, mas…”, você já disse isso alguma vez? Hoje, lendo a passagem escrita acima, lembreime do “saudoso Stuart”.
Engraçadinho, mas é uma praga. Ele transmite doenças e nunca vem para a tua casa sozinho.
Os maus pensamentos são como este ratinho. Eles crescem, sujam, espalham doenças e matam a alma do crente.
Se não se fizer algo logo, a praga poderá ser incontrolável. E não importará se a casa estiver perfumada ou o chão
varrido.
Os maus pensamentosse instalam pelos furos das paredes do coração e penetram pelas frestas dos armários
da cozinha de tua alma. Dificilmente depois de entrar sobrará algum alimento saudável a ser servido. Assim, como
os ratinhos, devem ser expulsos com rapidez e lavagem do local.
Por isso Deus pergunta à Jerusalém “Até quando?” Deus não pouparia o povo caso não se purificasse do seu
pecado. A malícia do povo hospedara no coração como um hóspede folgado. Os pensamentos maus descansavam
nesta casa até que a Graça abriu as janelas e as portas do coração do povo mostrando-lhe a sujeira.
Os pensamentos são ligeiros e mestres em iludir a capacidade da compreensão humana. Se não for Deus a
nos acudir, nós mesmos seremos despejados de nossa casa (o próprio coração). Deus impõe urgência à Jerusalém
para que tal não aconteça: “Até quando? Mande-o embora agora!” O hóspede na tua casa é sujeira espalhada por
todos os cômodos. Mande-o embora e lave a casa.
Os maus pensamentos, conforme as Escrituras, não moram na mente, mas no coração. São hóspedes que
sujam o coração, e este os apresenta ao restante da casa. Percebe-se que mente e sentimentos, pensamentos e coração1 , não se distanciam tanto como muitos pensam, né? Na verdade, pensamos o que amamos
e podemos amar aquilo que pensamos. Portanto, daquilo que está cheio o nosso coração, a mente transborda. O
coração afeta a mente de tal forma que esta lhe retribui a afecção (Fp. 4.7). É quando a gente diz que ele falou mais
alto e as coisas não terminaram bem.
Porém, coração e mente, razão e sentimentos, não são realidades destoantes entre si.2 É certo que um pode
ter maior domínio do que o outro, mas nunca um funcionará sem o outro.
Aliás, o maior de todos os mandamentos não consiste precisamente em amar a Deus de todo o nosso entendimento (L.10.27)? Logo, amor e entendimento não se opõem. Eu preciso entender o que amo, pois nem sempre amo o que entendo. Muitos foram obrigados a entender uma fórmula matemática mesmo odiando esta disciplina. O interesse era a nota para a aprovação final.
Você não pensa em nada que não lhe tenha subido pelas escadas da alma desde o teu coração (Pv.4.23;
Mt.12.34). Você pensa (e fala, mesmo que não audivelmente) aquilo que o teu coração hospeda.
Quando o hóspede é limpo, o seu caminho até o andar de cima, a mente, não deixa rastro algum de sujeira. Pelo contrário, sopra para longe até mesmo as pequenas poeirinhas escondidas debaixo da cama (Ct.2.15;Cl.3.16,17)!
Ora, não se trata de ter pensamentos positivos para tudo ficar bem. Coração sujo é mente suja (maus
pensamentos).
Não há mente sã quando o coração é sujo. Quem é o hóspede que habita o teu coração? A menos
que seja Cristo (Pv.23.26), expulse tal hóspede. Por mais engraçadinho e prazeroso que possa ser, antes que ele lhe
roube a casa, lave-a agora.
Eliandro Cordeiro
Maringá, 01, jun, 2025.
Volte, Senhor. Sem espaço aos meus pensamentos! (Lc 24.13ss)
1 Na verdade, para as Sagradas Escrituras, coração e mente são a mesma coisa (é o que chamamos gramaticalmente de sinonímia). Logo, mente não significa razão e coração o lugar das emoções. Herman Dooyeweerd, ‘o filósofo do coração’, recordava sempre a ideia do coração como a centralidade da essência da pessoa humana. Citava sempre: “É do coração que procede todas as coisas” (Pv.4.23). Todas as coisas têm começo no coração – inclusive as científicas. Para o melhor entendimento da inseparabilidade existente entre coração e mente (o coração como unidade centralizante do ego humano), ler as referências a seguir é importante:Gn.6.5;8.21;17,17;24.45;Êx.28.13;31.6;Dt.4.39-40;7.17;8.5; 1Cr 28.9;29.18; Sl.139.23;Mt.13.15;15.18,20; Ef.4.17,18;Mc.8.17;2Co.3.14-16;2 “O que Deus uniu não o separe o homem” (Mc.10.1ss).