Pão-duro, eu?
E, quando já estavam fartos, disse Jesus aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca (Jo.6.12).
No mundo inteiro 931 milhões de toneladas de alimentos foram para o lixo em 2019. Só no Brasil, por dia,
vão para o lixo 41 mil toneladas de alimentos. Ou seja, 30 % dos alimentos produzidos no Brasil é desperdiçado. Isso
corresponde a 27 milhões de toneladas por ano. E, destes, 60% é de desperdício familiar, isto é, sobras no prato.
Só por curiosidade: você já deu uma olhadinha na lixeirinha da tua cozinha hoje? É desonesto usarmos o
texto bíblico como pretexto para infundir uma ideia alheia ao propósito de seu autor. Mas, como um dos propósitos
das Escrituras é corrigir-nos os erros (2Tm.3.15-17), entendido o texto, aplicá-lo imediatamente não é deturpação
textual.
Obviamente que este texto não aponta simplesmente para o fato de termos um Salvador complacente às
nossas necessidades básicas. Nos capítulos 5 e 6, o Senhor deixa clara a natureza de Sua Pessoa, bem como a sua
missão. Há uma metáfora2 encenada: a necessidade de comer o pão no deserto é um reflexo da necessidade dos
homens em alimentarem-se do “Pão da vida”, Jesus Cristo (Jo.6.22-59).
A estatística acima surge por curiosidade a partir da ordem do Senhor dada aos seus discípulos: “Recolhei o
que sobrou, para que nada se perca”. Logo Ele que faz milagres por que se importa em guardar pão? Por que não
comer pão fresco todos os dias? Basta estalar os dedos e…
Provavelmente você já entendeu a implicação desta mesma ordem dada aos discípulo à sua vida. Para onde
vão os milagres de Deus, todos os dias multiplicados em sua mesa; na cozinha? Vão para o lixo?
Encontrei quatro ações do Senhor Jesus que, observadas por nós, talvez nos ajude a evitar o desperdício
desses milagres. Contarei para você como imperativos:
1. Planeje o que vai fazer (6): “[…] Ele bem sabia o que estava para fazer.” Que confiança devemos ter em nosso
Senhor! Nada O pega de surpresa. Ele sabe tudo e mesmo assim planeja! Você também planeja o seu cardápio da
semana? Sabe das suas contas? Que tal adotar uma cadernetinha? Planejar cardápio semanal ou quantas vezes vai
ao mercado? Adotar essas ideias é uma boa maneira de usar bem os milagres.
2. Use o que você tem para hoje com gratidão (11): Agradeça antes de pedir, depois, valorize e não murmure.
Jesus deu graças e só depois partiu o pão.
Às vezes, confundimos o vazio da alma com o vazio do estômago. É uma disfunção dos pensamentos. Afetos
e desafetos costumam se relacionar erroneamente com finanças. Você já ouviu falar das senhoras que depois de
brigarem com os maridos alegram as lojas de bolsas? Conhece alguém que tem um “humor maravilhoso” quando o
estômago está vazio? O dinheiro tem o poder para muitas coisas, mas nem todas estão associadas a afetos. Se o
dinheiro pode comprar algum afeto, este é fingido. O carisma conquista muito carinho. Porém, a ironia é que, afetos
fingidos não precisam ser comprados- existem gratuitamente!
3. Divida responsabilidades (5,12b): Claro que o Senhor sabia que Filipe não tinha condições de alimentar a
multidão naquele deserto. Mesmo este discípulo morando na região mais próxima do deserto, não poderia
solucionar o problema. Porém, Jesus o envolve no problema da fome do povo. Ele tem que pensar o problema e
apresentar soluções! Mas o homem achou pouco os pães nas mãos do menino e os vê como insuficientes. Mas Jesus
os pega, agradece, divide. “Está vendo, Filipe, como é que funciona? Vai esperar ter uma padaria no deserto ou
apresentar a Deus, agradecer e dividir?”
4. Seja cuidadoso- não pão-duro, mesquinho (12,13): Jesus não desperdiça milagres.
Ora, Ele não faz milagres por fazer. Sempre há um propósito por trás de cada um deles. Os argumentos
hermenêuticos do diabo não foram suficientes para convencerem o Senhor Jesus a transformar pedra em pão
(Mt.4.3), mas a fome da multidão o foi. Jesus não fez o milagre para Si, mas o fez em favor dos homens.
Os milagres acontecem todos os dias na tua cozinha, na feira da semana. As folhas grandes, verde-escuras
da couve e o chuchu desprezado pelas crianças são milagres. Lembre-se que, embora Jesus tivesse poucos pães em
mãos, depois de agradecer, Ele os dividiu e deu.
Portanto, Jesus não é avarento ao pedir aos discípulos que recolhessem o que havia sobrado da
multiplicação. Ele dividiu quando tinha pouquinho nas mãos, por que não recolheria o que havia sobrado? Ele
seguiria adiante em seu caminho e não voltaria com a multidão. Esta, sozinha, precisaria comer o que estava
guardado (pão dormido ainda testemunha do milagre!).
Jesus bem que poderia ter feito com que pães surgissem do nada, como em Gênesis, quando Deus disse
“haja” e tudo se fez. Mas Ele usou o que já havia entre os homens. Os discípulos aprendem que o pão se multiplica
partindo e repartindo. Daí, o que ocorre não é mágica; é milagre. Um pão inteiro é menos do que um pão repartido!
Deus toma uma atitude humana: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca” (12).
Convido você a ler esta devocional acompanhada do texto bíblico, isto é, João 6.1-15. Deste modo, você poderá tirar maior proveito de sua leitura.
Parece que para Jesus, desperdiçar o pão é o mesmo que desconsiderar Quem O deu. É desconsiderar o
milagre que germina no solo, longe dos olhares humanos, regado apenas pelo amor divino (Mt.6.28).
Ser econômico não é ser pão-duro; é ser grato.
Os milagres vão para o lixo?
.
Senhor,
Que nunca seja um milagre a economia em minha casa.
Que eu vença a desconfiança de que cuidará de mim “tão bem” quanto eu me cuido.
Que o teu Espírito me ensine que tudo o quanto eu compro não supre o que o Senhor generosamente me dá.
Que a minha economia seja o sinal do coração grato- nunca da autossuficiência.
Ajude-me a dividir o pão, pois ele se multiplica partindo e repartindo. Mas, que eu nunca o divida por este mesmo motivo (dividir
apenas para ter mais em mãos).
Que eu não espere mais pães por ter dividido o meu. Não posso fazer da dor do outro a minha riqueza!
Por Jesus,
Amém.
Eliandro Cordeiro
Maringá, 02, abr, 2025