Pegadas nas águas
“O teu caminho passou pelo mar, o teu rastro pelas grandes águas; e não se acharam as tuas pegadas. Guiaste o teu povo, como a um rebanho, pela mão de Moisés e Arão” (Sl 77.19,20)
.
Os caminhos de Deus nos são misteriosos, mas os nossos lhe são todos conhecidos. Ele pisa onde não vemos,
mas conhece cada passo nosso com perfeição.
Convido você a ater-se nestes dois versículos com esmero. Leia-os num fôlego, como único!
Interessantemente, embora tenha sido o seu povo a pisar a lama do Mar Vermelho, o salmo diz ter sido Deus Quem
o pisou em seco. Tal linguagem figurada significa que foi exclusivamente Deus Quem fez o mar se recolher. Também
implica que, o caminho impensado pelo povo fugitivo, Deus o conhecia, literalmente, a fundo (v.19).
A associação do salmista entre pés hebreus e pés divinos (pisando apressados o leito do mar) ganha força
quando diz que os passos de Deus não eram conhecidos: “e não se acharam as tuas pegadas.” O que houve depois
de ter o povo atravessado o mar? A água voltou ao seu curso normal. “Deus passou”, abriu caminho onde não havia,
mas não deixou pegadas.
Olhemos atrás, depois de atravessar o Mar, e o vejamos em seu curso normal. A conclusão, quase como uma
revelação (1Co 10.1,2): se o seu povo não sabe por onde ir, Ele o sabe onde guiar. Do outro lado, Israel pode ter
pensado: “como chegamos aqui?” Um sopro divino, invisível o abriu. Simples assim (Êx 15.8).
O salmo termina lembrando que, mesmo quando os caminhos de Deus pareciam invisíveis (como no Mar
Vermelho) Ele conduziu o seu povo com firmeza. A imagem se monta linda: o rebanho não entende o mapa, mas
confia no pastor (Sl 23).
Nem sempre os caminhos de Deus nos são previsíveis. E a imprevisibilidade é lógica: se Ele pode caminhar
sobre as águas, as nuvens bem podem-lhe ladrilhar o atalho (Na 1.3). Os anjos figuram servís rodas velozes Àquele
que está em todos os lugares (Sl 18.10). E, nós aqui, a olharmos para o alto, o que daqui enxergamos?
‘As pegadas divinas deixadas nas águas do Mar Vermelho’ são alvo da atenção de Kidner:2
Os eventos tremendos no Mar Vermelho e no Sinai inspiram a mente do profeta enquanto se
entrega a pensamento deles, e transmite aquilo que vê. Não somente seu problema fica reduzido a
um tamanho mínimo e esquecido, como também o nosso mundo recebe a corretiva contra qualquer
impressão de forças autônomas e de um criador que se ausenta (p 308).
Ah! Somente a fé vê os passos nas águas deixados por Deus (Hb 11.1ss; 2Co5.7). As águas não o apagam; a
incredulidade sim. “Deus é misterioso, mas não indiferente”, grita o mar recuando para os hebreus pedestres (Sl
77.16).
O fato de Deus andar sobre as águas não deveria nos remeter apenas à ausência obvia de rastros. Deveria,
igualmente, lembrar-nos que Ele está acima de tudo o quanto criou. Não é pesado- não afunda; nem leve demais- o
vento não leva. Ele É Deus e todas as coisas lhe submetem! (Mt 14. 22-36; Mc 4.41; Sl 29.10; 89.9-11; 107.23-25).
Deus sabe onde está nos levando, mesmo que a gente não veja por onde Ele pisa.
Eliandro Cordeiro
Maringá, 05, jul. 2025
Senhor, As tuas pegadas, perseguidas pelos olhos fervorosos, pés cansados, terminam a centímetros da cruz.
Grato Por Cristo, Amém.
1JesusCopy,“A Glória de Deus na Cruz,” YouTube, publicado em 10 de março de 2024,
2 KIDNER, D. Salmos 73–150: Introdução e Comentário. Série Cultura Bíblica. São Paulo: Editora Vida Nova, 1998.