Trabalho: nem preguiça, nem presunção.
Salmos 127,128.
O trabalho é uma bênção de Deus; mas pode ser uma bênção bem perigosa. Você já ouviu falar em Workaholic? Workaholic é um trabalhador compulsivo; viciado em trabalho.
Para um artigo do site Inovasocial, “Ser considerado um workaholic já foi motivo de orgulho para muitas
pessoas — e, para algumas, ainda é. Mas felizmente hoje sabemos que trabalhar por longas horas pode resultar em
uma série de problemas físicos e psicológicos. De acordo com estudos realizados por Marianna Virtanen, do Instituto
Finlandês de Saúde Ocupacional, o excesso de trabalho e o estresse resultante dessa prática podem levar a diversos
problemas de saúde, como: problemas para dormir, depressão, consumo excessivo de álcool, diabetes, problemas de
memória e doença cardíaca. Basicamente, quanto mais trabalhamos, menos saudável fica nosso corpo. […]Em
resumo: quem trabalha demais pode até achar que está contribuindo positivamente para sua carreira e para a
empresa onde trabalha, mas os efeitos disso a médio e longo prazo mostram que os resultados podem ser exatamente
o contrário do que imaginávamos”.
Agora, o que as Escrituras têm a nos ensinar sobre o trabalho?
Neste curta poesia se encontram três preocupações básicas, porém, fundamentais para os homens: a
construção (trabalho), a segurança e a criação de um lar. De autoria do sábio Salomão, o Salmo 127 corresponde ao
período da edificação da casa de Deus, ou significa que um homem está edificando a sua própria casa.
Seja como for, a verdade premente neste salmo é que, somente aquilo que Deus edifica é realmente forte e
seguro. É o que o salmo pretende acentuar ao demonstrar o árduo trabalho do homem que, muitas vezes, parece
ser realizado com esforços infrutíferos. E que verdade encontra-se neste salmo! O trabalho sem a perspectiva da
benção de Deus é só vaidade.
Existem perspectivas bíblicas acerca do trabalho. Conhecê-las podem nos evitar a frustração de um dia
crescer, estudar, nos formarmos, escolhermos uma profissão e descobrirmos que nada é como planejamos.
É importante que se entenda que o trabalho não deve ser uma atividade desenfreada (v.1,2). Ao cristão fica
o entendimento que não se deve confiar em suas mãos solitárias: “Se o Senhor não”; se o Senhor não…”. “Em Vão e
inútil” indicam que o trabalhador nada realiza sozinho. Há uma mão invisível trabalhando com ele. Observe que,
embora haja o pedreiro que assenta tijolo por tijolo numa construção, ou o guarda noturno que faz a sua ronda pelas
ruas da cidade, quem aparece em cena é Deus. O pedreiro levanta paredes e o guarda vigia, mas, o grande
trabalhador dessa história é mesmo Deus. Sem Deus, o pão pode ser sempre aquele que o diabo amassou.
O trabalho pode me alertar acerca de tudo aquilo que ele não pode me dar. O salmo ruma para uma visão
mais particular. De pedreiro e guarda noturno ao cenário do lar. Pelas janelas a gente vê um cidadão que levanta
cedo e dorme tarde (v.2). É alguém que trabalha muito, mas só pode trazer dinheiro para dentro de casa, e nada
mais. Tudo o quanto este trabalhador possui é só dinheiro (v.3).
Sem desfazer a importância do dinheiro (antes lhe etiqueta o seu valor), o salmista redireciona o olhar de
seus leitores para aquilo que vale mais do que o dinheiro: a sua herança. A herança são os filhos, diz o salmista. Ora,
quem dá a herança é Deus, Na melhor das considerações, o homem só pode dar dinheiro (v3ss).
Observe que o versículo fala do pão adquirido com o penoso trabalho, porém, não confirma avanço algum
obtido com tamanho esforço. É só o pão! O que isto pode significar? O trabalho não é tudo aquilo que eu preciso
para ser feliz (v.3,4; Sl.128.3): A felicidade pode estar em torno daquilo que me custou outro tipo de trabalho; isto é,
amor, tempo e presença. O salmista fala da esposa e dos filhos. Então, não é o trabalho pelo trabalho, o dinheiro
pelo dinheiro.
O sábio Salomão sabe a hermenêutica da vida. Percebo em suas leituras que não leio bem! Pois, ele me diz
que o trabalho é providência, e não o remédio para a ansiedade (v. 2c-3). Eu já confundi muitas vezes o trabalho com
segurança (“em vão vigia o sentinela”). O suor que escorre na minha face não pode impedir os meus olhos de se
fecharem para dormir. O suor do trabalho não me pode roubar o sono. Para Salomão, o sono deve ser fruto do suor
e não a sua insônia.
Eu confesso que já agradeci a Deus por poder dormir cansado. Só quem se desesperou com o desemprego
entende isso. Porém, o trabalho pode pôr o pão dentro de casa, mas roubar-lhe o sabor: “o pão que penosamente
granjeastes” (v.2). O sono deve ser fruto do trabalho, mas não deve chegar sem a certeza do cuidado divino. Sei que
muitos gostariam de dizer como o salmista: “Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes
repousar seguro” (Sl.4.8). O sono deve ser o resultado de uma segurança satisfatória.
Hoje é feriadão, né? Você pode pegar a sua Bíblia e ler esses dois pequenos (nem por isso insignificantes) Salmos?
Artigo disponível em: < https://inovasocial.com.br/inova/vicio-em-trabalho-workaholic/ >.
O trabalho não deveria roubar-nos o sono, mas proporcioná-lo. Se ele nos tira o sono e não resolve os medos
e ansiedades, talvez se deva à ideia de que eu posso trabalhar com as minhas próprias mãos, sem a ajuda de Deus.
Trabalho e sono são essenciais. Porém, aquele que só dorme não se alimenta do pão que brota do suor do rosto. E,
aquele que só trabalha, não se alimenta do sono.
Ora, não deve haver preguiça nem presunção. Ironicamente, ter sono pode ser a maior conquista que o
dinheiro suado com o trabalho não pode dar.
Deste modo, o salmo nos mostra o objetivo do trabalho (Sl.128): quando o trabalho tem o seu lugar, o suor
gerado por ele é quem dá o sabor ao pão e rega a videira tornando-a frutífera (v.3). A família ao redor da mesa é o
objetivo do trabalho. O salmista vê o dinheiro como a finalidade do trabalho. Contudo, o trabalho e o dinheiro são
meios para se viver o que a vida tem de melhor: a família junto, o dormir sentindo-se seguro… Para o salmista, a
herança são os filhos, não o dinheiro.
Nenhum trabalho vale a pena, se você não puder se sentar com os seus filhos, os vir crescerem ou a esposa
não receber de volta o amor que devotou a você. Você trabalhou muito levantando cedo e dormindo tarde, não
beijando esposa e deixando a cadeira vazia à mesa com os filhos.
O trabalho é uma sociedade do crente com Deus. Pode até parecer uma parceira injusta, pois, Deus é quem
faz tudo e o homem encena a Sua Ação. Feliz é o homem que entende que o seu suor nunca será maior do que tudo
o quanto Deus lhe faz e dá. Feliz é o homem que consegue descansar em Deus depois de um dia cansativo, e acordar
no dia seguinte satisfeito, ainda que não goste do trabalho que realiza. Mas, como não trabalha sozinho nessa
parceria, ao chegar ao trabalho, ouça Deus dizê-lo: “Bem-vindo, Adiantei as coisas para você.”
Logo, o rei de Israel entende que não é o trabalhador quem compra o pão com o seu suor. Com o seu suor
ele “ganha” o pão. O crente sabe que é Deus quem lhe dá tanto o pão quanto o trabalho. Pois, trabalho sem fé é
ansiedade!
Eliandro Cordeiro
Maringá, 04, abr. 2025.
“Senhor, que eu ao buscar o pão, não encontre o pó” (Gn 3.19).