Um ninho, um passarinho com asas e pezinhos.

Devocional em Lucas 15.11-33.
O lar deve ser como um ninho.
Voar para longe não é o ideal. Contudo, se for, ter para onde voltar é uma bênção. Colocar os pés no ninho
é agasalhador.
Nem sempre, a gente quando quer fugir ou ganhar liberdade, se lembra: “Não é à toa que passarinho tem
pés.” Você já viu como passarinhos andam? O pardal dá pulinhos, o sabiá anda pezinho-pós-pezinho; o Quero-Quero
anda esquisitinho… Com o topetinho até parece um Policial Militar. Mas, voam. Por que os passarinhos têm pés se
já têm asas?
Voar é bom. Às vezes até nos livra de perigos. Contudo, voar não garante segurança nem abrigo. Para isso, o
passarinho precisa dos pés.
Ora, isso sugere que a liberdade não é apenas sobre voar, mas também sobre saber voltar, saber caminhar
com humildade. Você conhece o mito de Ícaro? Voar alto sem preparo, com asas de cera, pode levar à queda.
Evidente que isso nos faz lembrar exatamente o que o filho mais novo desta parábola fez. É certo que a liberdade,
sem direção, pode ser destrutiva.1
A parábola nos lembra que a vida cristã não é um ninho dentro de uma gaiola. Porém, é a mais segura. É
onde se aprende a voar, mas também onde se pode pousar. A fé não é uma prisão. Muitos confundem a segurança,
acolhimento e sustento que a fé oferece como uma camisa de força. O ninho só é alto e perigoso quando o filhotinho
não sabe voar. Quando aprende a usar as asas, o ninho se torna o lugar mais seguro para estar. Pois, ali, ele não
precisa voar; ele descansa as asas e repousa os pés.
As asas do garoto desta parábola o levaram para longe do ninho. Porém, elas se cansam. E ele pousa num
chiqueiro. É só a lembrança de que o peito do pai é um ninho que ele ganha forças para retornar, como as gaivotas
que no final do dia deixam a areia da praia. O pai do garoto lhe ensinou o que é liberdade: poder partir e saber
retornar. Não é à toa que passarinho tem asas!
Para quem entende que todo pródigo é um passarinho que se lembra tardiamente que precisa dos pés, há
cinco lições:
1) O lar não é uma prisão, mas um ninho;
2) A fé cristã também é um lar. Como um lar, é um ninho. Não é uma prisão. Somos passarinhos que veem o
mundo inverso: estamos do lado de fora da gaiola e lutamos contra a vida lá dentro, não fora dela.
3) Mais importante do que partir é voltar.
4) A liberdade do passarinho é ter asas e pés. Sem as asas, ele não voa; sem os pés, ele não pousa.
5) Ainda que não sejamos como o garoto fujão deste texto, somos todos pródigos do Pai. Ansiamos voltar ao
lar-ninho. Às vezes com asas, outras vezes, com os pés. Alguns, do chiqueiro; outros, de dentro do lar mesmo.
“…inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti.” (Confissões)
Eliandro Cordeiro
Maringá, 16 de set, 2025.
“Tripulação, preparar para pouso.”
Não é porque o avião voa que ele não tem rodas.
