“[…] Fica onde estás, não te chegues a mim, porque sou mais santo do que tu […]” (Isaías 65.5).
Israel se enche de orgulho por ser, dentre todas as nações da terra, o povo eleito de Yahweh. Mas, tomada de orgulho, a devoção logo vira praxe. Jejuns e orações são moedas de trocas por bênçãos devido aos serviços prestados a Deus.
Israel abandona o bom testemunho, deixa de ser luz para os povos esquecendo o que significa amar a Deus. As nações vizinhas de Israel falavam mal dela. O que esses povos criticavam de Israel? Os gentios a repreenderam pela sua pretensão de pureza, enquanto vivia, de fato, sob todas as formas de real iniquidade.
Mas de tantas iniquidades, o orgulho de ser santa era a guia de quase todas as outras: “Fica onde estás, não te chegues a mim, porque sou mais santo do que tu”, diziam os sacerdotes, mesmo atolados em idolatria e pecados. O povo tinha olhos vivos para os pecados dos outros, enquanto os seus próprios olhos enxergavam a si mesmos através das lentes distorcidas do orgulho, dando-lhes a falsa autoridade para poder dizer: “Fica onde estás […], sou mais santo do que tu.” A falsa santidade é míope com relação a si mesma.
Assim, Deus diz que a sua narina arde com o cheiro da santidade orgulhosa de seu povo. Isto porque a verdadeira santidade é manifesta na humildade. Aliás, a pessoa que é santa, nunca se vê santa. Talvez este seja um dos segredos para que permaneçam como tal. Assim como a humildade, quando a pessoa se percebe santa, na verdade, nunca a foi. O mesmo serve à alguém que sabe da necessidade se ser humilde tem a presunção de auto-declarar-se humilde? Auto-declarar-se humilde é próprio do orgulho. Você se lembra de Moisés? Quando ele descia do monte com as tábuas da lei nas mãos, o seu rosto brilhava, mas ele não o via brilhar. Somente o povo ao pé do monte via o brilho de sua face. Assim é a santidade: somente os outros veem (Êx.34.20-31).
A humildade é necessária para permitir que a santidade de Deus habite no crente e brilhe através dele. Portanto, não é errado afirmar que a humildade é a beleza e a força da santidade. Pois, uma santidade falsa é sempre verificada pela presunção, isto é, arrogar-se mais santo do que os outros.
Um homem que anseia tornar-se santo, sem que se revista antes de humildade, é capaz de vestir-se com a mais bela roupa da santidade, valendo-se de louvores nos lábios diante de Deus, porém, louvando a si mesmo no coração, agradecido pelo fato de Deus ter visto nele tantos méritos, ao ponto de o salvar. Não é assim como Jesus disse ter procedido o fariseu no templo, se referindo ao publicano? Andrew Murray percebe tal conspiração do coração “caçador da santidade” sem a arma da humildade: “O ego acha razão para sua satisfação naquilo que é penas o motivo para as ações de graças, nas próprias ações de graças que rendemos a Deus e na própria confissão de que Deus fez tudo isso” (MURRAY, Humildade). O fariseu considerava possuir uma santidade mais elevada.
Tim Keller em seu livro “Ego transformado” afirma que “o ego é incrivelmente atarefado- ou seja, faz tudo para ser notado. Vive preocupado tentando preencher o vazio. E é incansável sobretudo em duas tarefas: a comparação e a vanglória” (p.19). Um coração que busca a santidade, mas não a busca vestido da humildade, estará sempre fazendo comparações com os outros. Julgando-os, na maioria das vezes, de modo errado e a partir de seus próprios pecados.
“Fica onde estás, porque sou mais santo do que tu!” Ora, quanto mais santo, mais humilde. C.S.Lewis em seu livro “Cristianismo Puro e Simples” define uma pessoa humilde: “Humildade não é pensar menos de si; é pensar menos em si.” Ora, a humildade não pode ser confundida com baixa-estima. Isto porquê um arrogante pode procurar incansavelmente pela humildade apenas pelo orgulho de poder considerar-se ou ser visto como humilde (ou pode sentir-se com baixa -estima devido ao fato de não receber a atenção que julga merecedor).
Contrariamente ao que os judeus faziam, Jesus, o Santo, manso e humilde de Coração convidava os homens: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma (Mt.11.28,28). Enquanto a falsa humildade dos judeus o levara a se separar das outras nações, a santidade de Jesus, revestida de sua santa humildade, convidava pecadores para virem até Ele.
O apóstolo Paulo parece ter entendido isto. Eis o porquê da humildade deve preceder a santidade: “A mim, o menor de todos os santos me foi dado esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Ef.3.8). Paulo agiu diferente de seus compatriotas. Embora portador da promessa divina, o apóstolo sentia-se pequeno para a proclamação de tão grande Mensagem de Deus. Daí, tornar-se luz para os gentios (At.13.47).
Andrew Murray alerta que “não há orgulho tão perigoso, pois nenhum é tão sutil e traiçoeiro como o orgulho da santidade.” Este orgulho pode produzir a satisfação para consigo mesmo, quando deveria manifestar o santo temor, bem como, a sensação da presença de Deus aos homens. O orgulho sabe se vestir de humilde. Mas, a humildade é a veste da santidade. Esta nunca se vestirá com outra vestimenta. Portanto, nunca se apresente aos outros despido dela.
Professor: Eliandro Cordeiro