Você não é uma árvore. Mexa-se!
“[…] caindo a árvore para o sul ou para o norte, no lugar em que cair, aí ficará” (Ecl.11.3c).
Por muitos anos tive como vizinha a grata presença de L. Esquizofrênica, L era desprezada por muitos. Eu gostava de conversar com ela. Num dia qualquer L, depois de elogiar muito as árvores, me confidenciou ter muito dó delas. Segundo a vizinha, as árvores não eram livres como os passarinhos ou o cachorro. Elas só cresciam para cima; não podiam sair do lugar. Particularmente, achei filosófico o bate papo!
Eclesiastes recordou-me a conversa filosófica com a minha ex-vizinha. Nenhum crescimento pode ter apenas uma direção sob o risco de se perder a liberdade, ou melhor, não correr o risco. Claro que não incito que você assume um risco irresponsável sob qualquer preço de pretensa liberdade. Mas crescer também implica em movimentos para frente e para trás.
Aliás, Salomão nem tenciona aqui qualquer ideia de liberdade. Eclesiastes apenas esclarece aos seus leitores que há muitos momentos nesta vida que deve-se assumir o risco. Pois, ao falar da natureza, o sábio demonstra a aparente imprevisibilidade desta que, sem pedir-nos permissão, cresce, morre, floresce ou seca-se. As estações favorecem-nos conforme a lida de cada homem. Ora, para alguns a árvore que cai é prejuízo, enquanto para outros é sinônimo de lenha, pois acabou o gás!
O negócio parece paradoxal, mas o texto nos ensina a aceitar a vida como ela é. E ela força a árvore a cair e ficar no chão, mas aos homens o cair e reerguer-se. O homem não é uma árvore.
Curiosamente recordei-me daquela passagem bíblica quando o Senhor, em Betsaida, abre os olhos ao cego (Mc.8.22-25). Jesus cospe-lhe nos olhos e depois pergunta ao pobre homem se este vê alguma coisa. Este, de olhos cuspidos por Deus, diz ver os homens como “árvores que andam”.
Ora, esta é a única passagem das Escrituras que nos dão conta de ter Jesus tocado uma segunda vez para que o milagre ocorresse totalmente! Homens não são árvores andantes! Embora você não possa controlar tudo o quanto ocorre na natureza, mas também não é obrigado a permanecer indiferente a ela. Você não precisa viver em uma floresta depois de ter os olhos molhados pela verdade de Cristo.
Você precisa conhecer a realidade e discernir aquilo que pode ou não pode ser mudado. Porém, precisa de sabedoria para discernir entre a teimosia, o marasmo da alma ou a perseverança. “Quando a situação for boa, desfrute-a. Quando a situação for ruim, transforme-a. Quando a situação não puder ser transformada, transforme-se,” disse Viktor Frankl[1], sobrevivente de quatro campos de concentração nazista.
Ora, a certeza cristã acerca da providência[2] divina não exclui a ordem natural da criação. Nesta, o homem é o ser no qual mudar as coisas lhe é próprio. Exercer o domínio sobre a sua realidade (nos limites sabiamente respeitados) compõe a perfeita providência divina. Logo, temos em mente o trabalho. O trabalho é muito mais do que o exercício ou técnica empregada diariamente com o objetivo de receber por isso. Trabalho, segundo as Escrituras, é transformar o mundo para a glória de Deus.
Mas nem sempre a natureza trabalha previsivelmente. Uma forte chuva, com ventos fortes, pode ser previsível, mas nem sempre ela sugere a força suficiente para derrubar uma árvore fraca. Doutra experiência, um vento fraco derruba imprevisivelmente uma árvore gigante. Neste mundo, nunca estamos adequadamente preparados para as mudanças da vida.
E com este fino choque de realidades, Eclesiastes te ordena a ação. É necessário saber que se vai errar muito ainda nesta vida. Vai se levantar todas as vezes em que cair. Você vai voltar atrás muitas vezes depois de perceber que a decisão tomada, e jurou ser a certa, era, na verdade, um caminho cheio de erros e pecados.
Contudo, a árvore pode cair e ficar onde caiu, mas você não é uma árvore. Nos vendavais da vida, nosso crescimento pode ser interrompido. Planos e trabalhos sofrem erosões. Mas, diferentes de uma árvore, caímos e nos levantamos. Temos a capacidade de olhar para trás e perceber nossos erros e pecados. Como o filho pródigo (Lucas 15.11ss), ao cairmos, não apenas olhamos para trás; olhamos para o presente e reelaboramos o nosso futuro. “Levantar-me-ei e irei ter com o meu pai”, disse o moço da parábola contada pelo Senhor. O rapazinho percebeu que só tem futuro ao lado do Pai.
Portanto, mexa-se! Seja lá qual for a situação, a tua probabilidade de mudança interna sempre será mais real do que o mundo lá fora onde raios, geadas e ventos ferem-lhe o tronco. Mas não se mexa como a árvore sem qualquer percepção de sua própria existência, apenas “saculejada” pelo vento. Você não é uma árvore e não tem apenas uma direção para crescer, e há inúmeras formas de reagir à ‘agressão’ externa do mundo. A melhor delas é a de sempre se levantar depois que cair.
O autor de Eclesiastes caiu de uma posição bem alta. Eclesiastes é este registro da queda do homem mais sábio do mundo. Salomão se ergue, pois escreve a sua experiência alertando os jovens sobre a vaidade da vida.
Aliás, aquilo que não é eterno está sempre pronto a nos derrubar. Às vezes penso como a minha ex-vizinha: “as árvores amam o chão e agarram-se a ele com as suas raízes porque não sabem voar.”
Professor: Eliandro da Costa Cordeiro
Não importa o tamanho dar dor e as dificuldades que encontramos para seguir, a vida não vai parar um minuto para esperar nos a se levantar e caminhar por isso seja qual for a circustância não desista se pensar em desistir já começa desfalecer.