
Orar com alegria
“Fazendo sempre, com alegria, suplicas por todos vós, em todas as minhas orações” (Fp 1.4).
Sei que a maioria de nossas orações são realizadas com um coração triste. Mesmo
porquê, muitas vezes, o que nos leva a orar são as lutas e dores desta vida (Sl 120.1; Tg 5.13).
Fala-se tanto sobre orar com fé, mas pouco se ouve acerca da alegria durante a oração,
quando o coração triste encontra em Cristo todo o seu consolo (Onde o coração sério em oração
despreza a alegria? Alegria é coisa séria!).
A alegria irrestrita de Paulo é um dos temas de sua carta (mencionada 17 vezes!). Ao
padecer necessidades, o apóstolo recebe ajuda dos irmãos (Fp 1.5; 4.10-13,18). Com o coração
grato, ora cheio de alegria por eles. O belo de suas orações é que ele diz orar sempre com alegria
ao se lembrar dos irmãos. Se as lutas eram frequentes na vida deste homem, a oração era
intensificada, a alegria, por sua vez, também lhe era persistente. O apóstolo da graça põe a alegria
com a mesma urgência de sua oração: “fazendo sempre com alegria […], em todas as minhas
orações.”
Porém, por gentileza, leia novamente o versículo. Observe que o apóstolo põe a súplica
antes da oração. Evidentemente que suplicar é orar. Contudo, a súplica é uma oração ardente,
uma petição urgente que põe o orante em posição de humildade, incapacidade geral. E isso
descreve uma situação nem sempre agradável e/ou desesperadora a fim de alcançar algum favor
urgente.
Destarte, a oração (que contém a súplica) é aquela que aproxima o homem de Deus
entrelaçando louvor, palavras, sentidos etc. Esta distinção se faz necessária apenas para que
vejamos que a alegria cristã não é incoerente com a sua realidade. A alegria do crente também
verte lágrimas da mesma forma em que, diante de Deus, até a tristeza salta de alegria (Jó 41.22;
Sl 30.5).
A fé é indispensável àquele que ora, e a alegria não? Um coração grato, cheio de
contentamento transborda-se do quê?
Ora, se a fé move montanhas (Mt 17.20,21), pressuponho que a alegria escolhe aonde
levar a montanha, onde ficará mais bela, tendo em vista todo o cenário do paraíso em meio as
dores, não?
Evidentemente que a alegria do apóstolo não era ingênua (Fp 4.10a, 11ss). A alegria vê
as circunstâncias difíceis. Só um otimismo cego ou uma alegriazinha boba que se prende às coisas
passageiras desta vida, sorriem por qualquer cocegazinha, desprezando o mundo caótico (Jo
16.33; 15.11).
A alegria que leva este homem à oração não desprezava as dificuldades; ela é maior e
constante. Paulo diz que orava com alegria “sempre”. Ou seja, a alegria em Cristo tem o controle
da tristeza. A tristeza tem hora, enquanto a alegria tem o tempo: “sempre”.
Difícil saber se é a alegria que leva o crente a orar sempre ou orar sempre leva o crente
ao contínuo estado de alegria. Seja como for a ordem, a equação é melhor vivenciada de joelhos.
Mesmo porquê, como deve ser constrangedor ver o rosto entristecido de um crente que acabou
de se levantar da oração. Parece considerar a oração apenas como um momento terapêutico,
alívio por desabafar com o “Papai-Terápico”. Sem dúvidas que a oração abraça emoções, afetos
e sentimentos e pode ser terapêutica para muitos. Contudo, a oração que muda o coração
embeleza a face (1Sm 1.18,19).
A constante vida de oração deveria nos deixar mais alegres, e a alegria, por sua vez,
deveria nos pôr mais vezes de joelhos (sempre).
Eliandro Cordeiro
Maringá, 17 de nov. 2024
Preciso sorrir mais ao falar com o Senhor