
Deus está conosco
“Que diremos então em vista destas coisas? Se Deus está conosco, quem estará contra nós? (Rm8.31)
Deus está conosco é o resumo conciso do Evangelho.
Deus está do nosso lado, não como um aliado servil, claro, e nem de modo assinalado pelos eventos do
Evangelho, mas como o Nosso Senhor que nos reivindicou para si mesmo.
A pergunta do versículo acima é uma retórica. Não espera resposta. Não há ninguém cuja hostilidade
devamos temer. Claro que temos inimigos que se nos quer tragar e se nos opõem. Estes procuram a nossa ruina.
Evidentemente, conforme lembra Lenhardt, “a paz de Deus não exclui o combate da fé.” Porém, com Deus ao nosso
lado, não há motivo para temermos (Rm 8.28). Mas isso não significa que condução até à vitória implica sermos
poupados das provações (IJo 5.4). Todavia, ainda que nossos inimigos nos causem dores, nunca serão dores que nos
custem a Vida Perene (2Co 11.23ss).
A fim de que a verdade da amizade divina seja irrefutável, o apóstolo apresenta-nos evidência lógica: “Aquele
que não poupou o próprio Filho…” (v.32). Paulo busca, aqui, a imagem de Abraão e Isaque (Gn.22.12). Nesta narrativa,
o Pai da fé é impedido de sacrificar o filho para Deus. Abraão está disposto a sacrificá-lo, mas, foi poupado da terrível
dor. Portanto, Isaque não é uma tipologia de Jesus, mas o Cordeiro providencialmente posto atrás de Abraão.
Atitude diferente houve no Calvário: o Filho morre pelos homens maus. Naquele monte, os anjos não
impedem que o Pai mate o Filho. Há silêncio nos céus. O inferno se cala com medo! Somente o Filho brada. O cordeiro
ruge, pois, é Leão também, e todo o universo fez silêncio (Mt 27.45; Lc 23.46; Ap. 5.5,6).
Logo, assim como Isaque é poupado, nós o somos. Contudo, o Cordeiro de Deus está já providenciado como
sacrifício em nosso lugar (Jo 1.29). Nosso sangue seria derramado inutilmente.
Ora, nada tão claro quanto a ideia de que nenhum sacrifício humano pode limpar-nos do pecado. Apesar da
“obediência de Abraão e a aparente inocência do seu garoto, as suas almas têm sombras. Claro que Deus não
aceitaria o sangue de Isaque. Abraão (Israel) não pode se ver livre da ira divina, exceto se o próprio Deus O esconder
no sangue do Filho Amado. Abraão é cheio da fé, mas é a graça que a sustenta (Ef. 2.8).
Se a história do sacrifício de Isaque vai para além da prova de fé, é ela uma denúncia a Israel. A Lei não torna
ninguém limpo diante de Deus. Por mais que ela busque a perfeição e ofereça as suas obras a Deus, ainda será
insuficiente (Tg 2.10). Mas, se o próprio Deus for tanto o sacrifício como o ofertante, Ele aceitará a oferta. Aceita-a
das mãos do Único que a oferece santa- o Seu Filho (Rm 3.26). Somente Deus, em Seu Filho, pode salvar Israel e, no
caso, a Igreja.
E, não se trata apenas de se ter a Deus por defesa. Deus conosco é tanto uma prova de amor quanto o desejo
de contínua comunhão. Pois, ao nos dar o Seu Filho para morrer em nosso lugar, não nos negou agraciar com nada
mais. Temos no Filho comunhão eterna com Deus-Pai. Poderíamos, ao receber o perdão seguir um caminho oposto,
longe de Deus? Talvez. Porém, em Cristo, Deus nos chama para perto (Hb 2.11).
Oh, Alma duvidosa desta Presença! Caso te fosse possível visitar o inferno, veria, com certeza, a hoste do
mal fugindo do grande amor de Deus que te acompanhou até aquele maldito lugar. Mas, se pudesse subir ao Céu,
habitação de Deus e seu séquito de glória, e o encontrasse vazio, duvido a tua alma satisfazer-se com qualquer delícia
deste lugar. Só há prazer genuíno onde “Deus é por nós”.
A dor ou a solidão, o desemprego, a morte ou qualquer outra triste situação, nunca te deveriam ser sinais
evidentes da ausência do amor de Deus. Olhar para a cruz e não a encontrar vazia, pois, ali pregaram a as mãos e os
pés da Liberdade, ou olhar para o túmulo (cedido por José de Arimatéia) e vê-lo por três dias ocupado (Mt 27.57-
61), é o sinal de que nunca ficamos sozinhos- mesmo com o inferno contra nós.
Na cruz, Cristo esteve sozinho. E nada nos mostrou mais fortemente o quanto Deus, na solidão do Filho,
estava conosco.
Em Jesus, Deus se satisfaz em você (Is 53.11; Mt 3.17). Esteja você onde estiver, se estiver em Cristo, Deus
está com você (Rm 8.39). E, se o Filho e o Pai são um, consequentemente, o crente se beneficia desta Santa
Comunhão.
Assim, o amor que você é incapaz de dar, tem na Trindade a graça de receber.
Eliandro Cordeiro
Maringá, 23, fev. 2025
Com a mesma certeza de Simonton:
“Amanhã quando eu acordar Deus estará comigo, e se acaso eu não acordar, eu estarei com Ele.”